A dificuldade em provar maus-tratos a idosos em hospitais é um problema complexo que reflete uma série de desafios no sistema de justiça, na proteção dos direitos dos idosos e na fiscalização das práticas hospitalares. Num cenário onde o número de casos levados à justiça ou ganhos por idosos contra hospitais é reduzido, a tarefa de demonstrar a ocorrência de maus-tratos torna-se ainda mais árdua.
A prova de violência física e psicológica muitas vezes é uma batalha difícil de ser vencida. Enquanto lesões visíveis como pisaduras, cortes, golpes e queimaduras podem ser evidências claras de abuso físico, a violência psicológica é mais subtil e desafiadora de ser documentada. No contexto hospitalar, a violência física muitas vezes é justificada como parte dos procedimentos médicos, e a violência psicológica pode ser ainda mais difícil de detetar, já que não deixa marcas visíveis.
Forçar a toma de medicação, impor tratamentos ou sedar pacientes sem consentimento são formas de maus-tratos que podem ocorrer nos hospitais, mas são difíceis de serem comprovadas. Em muitos casos, quem controla a atuação do hospital e do pessoal é a própria instituição, o que pode gerar conflitos de interesse e dificultar a denúncia de abusos.
No caso de um idoso que não consegue comunicar, seja devido a dificuldades respiratórias, dores, demência ou outros problemas de saúde, a situação torna-se ainda mais delicada. Como pode este idoso saber que medicamentos lhe foram administrados ou como pode denunciar abusos se não consegue expressar-se? Mesmo quando a família intervém, muitas vezes são rotulados como estando confusos ou desinformados, o que dificulta ainda mais a sua credibilidade perante as instituições hospitalares e, por vezes, mesmo junto dos próprios advogados.
A visita aos idosos muitas vezes é limitada a um curto período de tempo, o que levanta questões sobre o que acontece durante o resto do tempo de internamento. A família pode reclamar, mas muitas vezes encontra obstáculos burocráticos e falta de transparência por parte das instituições. A falta de acesso a fotografias ou relatórios médicos também dificulta a obtenção de provas concretas de abusos.
Diante deste panorama, onde está a proteção dos direitos dos idosos? Onde está o direito ao respeito, à dignidade e ao acompanhamento durante o internamento hospitalar? Onde estão os direitos fundamentais consagrados na nossa Constituição? Como pode haver justiça se os idosos não têm acesso a meios para contratar advogados e se não têm orientação para seguir o caminho da denúncia?
Estas são questões urgentes que exigem uma resposta eficaz por parte das autoridades competentes e uma maior sensibilização da sociedade para os direitos e a dignidade dos idosos, especialmente quando estão mais vulneráveis durante o internamento hospitalar.
Para uma filha que assiste a tudo isto a acontecer ao seu pai, a situação é profundamente angustiante e desesperadora. Ver o seu ente querido vulnerável e possivelmente sujeito a maus-tratos num ambiente onde se espera encontrar cuidado e cura é uma fonte de profunda aflição.
Ao testemunhar a falta de transparência por parte das instituições hospitalares, a dificuldade em obter informações precisas sobre o estado de saúde do pai e os obstáculos enfrentados ao tentar reclamar ou denunciar possíveis abusos, a filha sente-se impotente e frustrada.
A visita limitada a um curto período de tempo não lhe oferece a oportunidade de estar presente para o pai durante todo o tempo de internamento, e ela fica a questionar-se sobre o que pode estar a acontecer quando não está presente. A falta de acesso a fotografias ou relatórios médicos apenas aumenta a sua ansiedade e incerteza.
Além disso, a filha enfrenta o desafio de lidar com o rótulo de “família confusa” quando tenta levantar preocupações sobre o tratamento do pai. Esta rotulagem injusta mina a sua credibilidade e torna ainda mais difícil obter justiça e proteção para o pai.
Para a filha, a luta pela proteção e respeito pelos direitos do pai torna-se uma batalha pessoal e emocional. Ela está determinada a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para garantir que o pai receba o tratamento digno e compassivo que merece, mesmo que isso signifique enfrentar um sistema que parece estar contra eles.
Para melhorar a situação dos idosos em hospitais e prevenir casos de maus-tratos, é essencial implementar uma série de medidas que abordem as lacunas existentes no sistema de saúde e no sistema de justiça.
Aqui estão alguns caminhos de melhoria que podem ser considerados:
Em suma, a melhoria da situação dos idosos em hospitais requer uma abordagem abrangente que envolva medidas educativas, preventivas, de intervenção e de proteção dos direitos humanos. É necessário um compromisso coletivo por parte das autoridades, profissionais de saúde, familiares e sociedade em geral para garantir que os idosos sejam tratados com o respeito, a dignidade e o cuidado que merecem.
Quase que poderia ser um slogan (frase curta e apelativa) para vender um produto e com tudo para convencer, vem de um site fidedigno, tem uma imagem no próprio site, que encanta de tanta ternura, mas cheia de escárnio, porque a realidade é outra…
Ao lermos o texto que se encontra neste site https://hff.min-saude.pt/cuidados-paliativos-viver-com-dignidade-ate-ao-fim/, quem não ficaria feliz ao pensar que os nossos queridos familiares e nós mesmos um dia, teremos um final consolador, “morrer com dignidade e com conforto”, mas o cenário é outro, a realidade de um velhinho a morrer, em que o amarram durante todo o tempo de internamento, até ao último suspiro…
Em que nem as luvas tem espaço para meter os dedos e por isso obriga a que as mãos fiquem fechadas e dobradas e por isso constrangidas, e bastante inchadas como bolas, por estarem presas, sem espaço para esticar os dedos, sempre amarradas e por estar tanto tempo na mesma posição, que ganha uma ferida no fundo das costas, e há mais, muito mais para contar..., única e simplesmente poderei dizer que esta frase é uma pura fantochada.
Viver com dignidade até ao fim... uma frase curta e apelativa tão bonita, tão reconfortante, tão... irónico. Porque, afinal, o que é a dignidade quando se trata de cuidados paliativos para os idosos? É passar os seus últimos dias amarrados?, atirados e deixados sós numa cama?, sem sequer, poder ter a família por perto? ...em locais como hospitais que, em geral, mais se assemelham a prisões de abandono? É serem esquecidos nas suas camas, à espera que alguém lhes dê atenção entre uma troca de turno e outra?
Lidar com uma doença terminal é, sem dúvida, uma provação emocional e física, tanto para o doente como para os familiares. Mas quem disse que tornar os últimos dias dos idosos um mar de negligência e desatenção é a melhor forma de lidar com isso? Ah, claro, talvez seja essa a definição moderna de “dignidade”.
As famílias são confrontadas com a difícil realidade e sem escolha, deixar os tristes nos limbos de uma instituição fria e imaginar e assistir ao seu sofrimento. E, claro, o que melhor define qualidade de vida do que a solidão de um quarto impessoal, os gemidos ignorados pelos corredores e a monotonia de uma rotina desprovida de amor e atenção?
Os cuidados paliativos, essa bênção moderna da medicina, estão lá para “proporcionar alívio da dor e outros sintomas geradores de sofrimento”. Mas, na prática, aliviar a dor parece significar uma dose de medicamentos e um olhar indiferente enquanto o tempo passa. Afinal, quem tem tempo para se preocupar com a dor física e emocional de alguém que já viveu demais, não é?
E o que dizer dos princípios louváveis dos cuidados paliativos, como afirmar a vida e encarar a morte como um processo natural? É verdade, é tudo muito natural: a vida a definhar enquanto as instituições lucram com o sofrimento alheio.
Os doentes terminais e idosos não são apenas números em folhas de papel ou pacientes em camas de hospital. São seres humanos com histórias, com vidas que merecem respeito e dignidade até ao último suspiro. Mas, claro, quem tem tempo para histórias quando se está tão ocupado com a burocracia e o lucro?
As equipas de cuidados paliativos são multidisciplinares, sim, compostas por uma miríade de profissionais que, por vezes, parecem mais preocupados em cumprir horários do que em proporcionar conforto e companhia aos que mais precisam.
E assim, enquanto as campanhas de sensibilização enchem os jornais e as redes sociais com slogans bonitos e fotografias comoventes, a realidade dos idosos e das instituições de cuidados paliativos continua a ser uma história de abandono, negligência e desumanidade.
Porque, afinal, o que é a dignidade quando se trata dos mais velhos e dos mais vulneráveis? Talvez seja apenas uma palavra vazia, um conceito distante que serve apenas para adornar discursos bonitos e acalmar consciências culpadas. E, enquanto isso, os idosos continuam a sofrer, silenciosamente, nos cantos esquecidos das nossas sociedades “civilizadas”.
Mas será que a sociedade moderna prefere ignorar este lado sombrio dos cuidados aos idosos? Afinal, é mais fácil compartimentar a realidade, escondendo os problemas debaixo do tapete das estatísticas de melhoria nos cuidados de saúde e bem-estar.
Enquanto isso, nas instituições como hospitais, os idosos aguardam pacientemente a visita de familiares que muitas vezes são esbarrados à entrada e que apenas lhes é dado meia hora de visita. E assim, o ciclo de solidão e abandono perpetua-se, num ambiente onde a palavra “dignidade” parece cada vez mais distante.
Talvez seja hora de confrontar a hipocrisia subjacente à fórmula de lidarmos com os nossos idosos e doentes terminais. É preciso reconhecer que a verdadeira dignidade reside no tratamento humano, na compaixão e na garantia de que cada pessoa, independentemente da sua idade ou estado de saúde, merece viver os seus últimos dias com respeito e conforto.
É hora de repensar o sistema de cuidados paliativos, tornando-o verdadeiramente centrado no paciente, onde o lucro não seja o principal motor e onde a qualidade de vida seja mais do que apenas uma frase bonita em brochuras institucionais.
É hora de dar voz aos que muitas vezes são silenciados pelos meandros da burocracia e da indiferença. Porque, afinal, a verdadeira medida de uma sociedade civilizada não está na sua tecnologia de ponta ou nos seus avanços médicos, mas sim na forma como trata os seus membros mais frágeis e vulneráveis.
Então, enquanto continuamos a celebrar os avanços da medicina e da ciência, não nos esqueçamos daqueles que estão à margem, cujas vozes são frequentemente abafadas pelo ruído da modernidade. Porque só quando nos confrontarmos com a realidade nua e crua poderemos verdadeiramente aspirar a uma sociedade onde a dignidade seja mais do que apenas uma palavra vazia.
É preciso despir os cuidados paliativos do véu do conformismo e da complacência. É preciso olhar de frente para as falhas do sistema, para as lacunas na prestação de cuidados e para a falta de humanidade que muitas vezes prevalece.
Não podemos permitir que a busca pelo lucro e pela eficiência económica se sobreponha à necessidade fundamental de proporcionar conforto e dignidade aos que enfrentam o fim da vida. Afinal, de que serve toda a tecnologia e todo o progresso se não forem capazes de aliviar o sofrimento humano e de garantir que cada pessoa seja tratada com respeito e compaixão?
É hora de exigir mais dos nossos sistemas de saúde, de desafiar as normas estabelecidas e de lutar por uma abordagem mais holística e centrada na pessoa nos cuidados paliativos. É hora de garantir que cada idoso, cada doente terminal, seja visto como um indivíduo único, digno de cuidados personalizados e de uma atenção genuína.
Somente quando reconhecermos plenamente a humanidade de cada pessoa e nos comprometermos a tratá-la com dignidade e respeito é que poderemos verdadeiramente afirmar que vivemos numa sociedade onde a vida é valorizada.
Então, que esta reflexão crítica nos impulsione à ação, que nos inspire a sermos agentes de mudança e defensores dos direitos dos idosos e dos doentes terminais.
Nas instituições de cuidados paliativos, os princípios universais da Organização Mundial de Saúde são muitas vezes ignorados, transformando-se em meras palavras vazias em vez de diretrizes vitais para a prestação de cuidados humanos e compassivos.
Enquanto os políticos se gabam dos avanços na saúde e os meios de comunicação destacam os progressos tecnológicos, os idosos são relegados para segundo plano, sujeitos a condições que muitas vezes ignoram os princípios mais básicos de dignidade e respeito.
É uma ironia pungente que numa sociedade que se considera avançada e civilizada, os idosos sejam tratados com tanta negligência e indiferença. Revela as falhas profundas do nosso sistema de saúde e questiona a nossa verdadeira humanidade.
Que esta crítica sirva como um alerta, uma chamada à ação para exigir mudanças significativas na forma como tratamos os nossos idosos e doentes terminais. Pois, enquanto continuarmos a falhar no respeito pelos princípios fundamentais da dignidade e do respeito humano, estaremos condenados a perpetuar o ciclo de sofrimento e abandono nos nossos lares e instituições de cuidados paliativos.
Há registos na literatura de que na Europa, entre os séculos XVII e XIX, utilizavam-se como instrumento de contenção física correntes fixadas às paredes para prender os pacientes mais inquietos pelos pulsos e tornozelos, bem como um “Tranquillizer ou cadeira de Rush”: que era uma poltrona de madeira com encosto alto, no qual se fixava uma caixa de madeira para a imobilização da cabeça. Os membros e o tronco eram restringidos por correias no encosto do móvel. essas formas de prender os doentes psiquiátricos, foi bastante utilizado até meados de 1794.
Se compararmos o que atualmente se faz temos poucas mudanças. A contenção mecânica de pacientes, especialmente dos idosos, é uma prática que evoluiu ao longo das décadas, mas, infelizmente, nem sempre para melhor. Ao olhar para o passado, a contenção de doentes psiquiátricos muitas vezes envolvia métodos brutais e desumanizadores.
Há imagens perturbadoras (imagem 1), como a da cabeça dos pacientes sendo colocada numa espécie de caixa, que em comparação com a realidade atual, temos presentemente uma prática que agora parece quase medieval.
Essas medidas extremas eram justificadas na altura como necessárias para a segurança, mas falhavam em apresentar qualquer consideração pela dignidade humana, pela nossa condição de pessoa que sente.

imagem 1, de 1794
No entanto, ao refletir sobre a situação atual, pergunto-me: o que realmente mudou? O avanço da modernidade deveria ter trazido mais compaixão, respeito e dignidade, mas, em vez disso, noto que simplesmente trocámos uma forma de opressão por outra. O meu pai, que esteve sob cuidados médicos, enfrentou um cenário que, embora diferente na forma, não foi menos cruel. Esteve preso por fitas que apertavam o seu tórax, amarraram-lhe as mãos à cadeira ou às grades da cama pelos pulsos e ainda, como se não bastasse, contra a vontade metem-lhe umas luvas, profundamente desconfortáveis, porque os dedos devido a umas linhas que as luvas tinham não ficavam sequer esticados, as mãos pareciam bolas dentro dessas luvas, que chamavam de “luvas de contenção”.
Associado a tudo isto e em comparação com a figura de 1794 da imagem 1, temos ainda que, o que está em causa, é um velhinho de 96 anos a morrer, que não fez rigorosamente nada, que não ofereceu resistência a ninguém, para ter semelhante castigo, o que efetivamente fez de mal, este velhinho, foi estar doente, e, por adoecer sofreu a pior das condenações de toda a sua vida, atropelaram a sua dignidade, e isto é intolerável, eu falo pelo meu pai e falo por todos os idosos, que depois de adoecerem, recebem o pior castigo da vida deles, como se a doença fosse uma punição, em vez de tratamento.
Estão a morrer! Não servem para mais nada! São farrapos que estão ali!
Pergunto, quais as consequências psicológicas destes atos infligidos aos nossos idosos?


A modernidade, com toda a sua “evolução” – quanta ironia! – ainda encontrou espaço para a sedação, um substituto para a antiga caixa. Essa sedação mantém, convenientemente, as pessoas quietas, submissas, subjugadas, tirando-lhes a oportunidade de reagir ou até mesmo de comunicar plenamente.
Esta prática moderna de contenção, mascarada por uma suposta preocupação com o bem-estar dos idosos, é igualmente, se não mais, desumana. A adição das luvas de contenção é apenas mais uma camada de desrespeito e abuso. Estes métodos modernos são uma forma silenciosa de violência, uma violência que é fácil de ocultar por detrás de protocolos e procedimentos médicos, mas que continua igualmente a infligir sofrimento.
Há uma grave falta de respeito por estes idosos, uma geração que merece o nosso maior cuidado e consideração. Em vez disso, estão a ser tratados como problemas a serem controlados, e não como seres humanos com histórias, sentimentos e dignidade. É um abuso de poder imperdoável, especialmente porque se aproveita dos mais vulneráveis entre nós.
Fazendo uma comparação direta: antigamente, a brutalidade era explícita e visível, mas agora, a crueldade é disfarçada sob a capa de avanços médicos. No fundo, a essência da prática não mudou – continua a ser um controlo desumano e abusivo sobre indivíduos que não podem defender-se. E fazer isso aos nossos velhinhos é, de todas as formas, imperdoável.
A imagem do meu pai, preso por fitas e sedado, é uma imagem que jamais deveria existir numa sociedade que se diz moderna e civilizada. Algo que não pensei ver até hoje. Precisamos urgentemente de reavaliar como tratamos os nossos idosos, pois cada método de contenção, seja físico ou químico, carrega consigo um peso enorme de subordinação do outro. E isso, em qualquer era, é inaceitável.
Fontes:
https://www.novaconcursos.com.br/arquivos-digitais/erratas/15176/19477/contencao-mecanica.pdf
Numa manhã cinzenta do dia dez de março, entrei naquele hospital com o coração cheio de esperança, ansiosa por finalmente levar o meu pai para casa. Fui cedo, estava decidida, determinada, com uma satisfação interior, pela expectativa de ter chegado o grande dia para o levar, para o tirar daquela tortura. Aguardei na sala de espera pela sua alta, imaginando o reencontro e a alegria de tê-lo de volta ao nosso lar. No entanto, fui confrontada com mentiras e omissões. Nada me foi dito sobre o verdadeiro estado de saúde do meu pai naquele dia.
Quando finalmente entrei no seu quarto, o meu coração quase parou. Julguei-o morto. Ele ainda respirava, mas a vida parecia estar a escapar-lhe rapidamente. Na noite anterior, ele tinha falado comigo, e eu prometi que o iria buscar. Os registos desse dia indicavam que ele estava perfeitamente normal, mas a realidade era devastadoramente diferente.
Fui tão feliz buscá-lo nesse dia, com o coração a transbordar de esperança e alegria. Já tinha na ponta da língua as palavras que ansiava dizer: “paizinho, vamos para casa!”. Mas, quando o relógio marcava as 11h30 ou 12h, encontrei-o quase sem vida, como se estivesse mergulhado num sono eterno. Quem lhe deu a alta, sabendo do seu estado, não me deram qualquer indicação da gravidade da situação, parecendo todos ainda troçar de mim. Mesmo assim, quis cumprir a minha promessa. Com uma dor profunda no peito, levei-o para casa, onde ele acabou por falecer horas depois, nos braços do amor e da dignidade que sempre mereceu.
Os profissionais de saúde, frios e indiferentes, recusaram-se a dar-me um lençol para o cobrir, respondendo, de forma cruel, que o hospital tinha poucos. A enfermeira que estava de serviço tratou-me com um tom irónico e desrespeitoso. Quando perguntei porque é que a urina não estava a correr, respondeu-me carregada de sarcasmo: “não dá mais”. Pedi um lençol para o cobrir e ela negou, dizendo que ele tinha o que estava debaixo dele. Eu insisti, dizendo que o devolveria, mas sem sucesso. Quase morri de dor e desespero ao ver o meu pai naquela condição, sem receber o cuidado e o respeito que merecia.
Acredito que esta atitude desumana se deveu ao facto de eu ter feito duas reclamações anteriormente. Sentia-me impotente, traída e desesperada. O meu pai, que no dia anterior ainda tinha vida e voz, agora estava a ser tratado como se fosse um fardo descartável. A frieza e a falta de compaixão daqueles que deveriam cuidar dele foram um espelho cruel de desumanização e de abandono.
Essa experiência deixou-me marcada para sempre, com uma tristeza profunda e uma revolta que não consigo apagar. Ver o meu pai naquela condição, sem receber o cuidado e o respeito que merecia, foi uma das experiências mais dolorosas da minha vida. É imperdoável tratar os nossos velhinhos assim, como se fossem menos que humanos.
No dia anterior tinha prometido levá-lo para casa com o coração pesado e os olhos marejados de preocupação. Ao meu lado, o meu pai, com os seus 96 anos, segurava-se à vida com a fragilidade que só os anos conseguem trazer. Aquela deveria ter sido uma visita implorada por saúde, acabou por desabar numa dor incrédula.
O que vi e senti naquele hospital vai muito para além das palavras. A impotência de assistir ao sofrimento do meu pai, a indignação perante os maus-tratos que sofreu, é algo que ainda hoje me assombra os dias. E as noites.
Lembro-me como se fosse hoje do seu rosto marcado pela dor, dos seus olhos cansados que imploravam por compaixão. Mas o que encontrou foi indiferença, negligência, crueldade. Vi o meu pai ser tratado como um número, como um estorvo, quando deveria ter sido acolhido com respeito e ternura.
Não posso descrever em pormenor cada momento de horror que testemunhei, pois a minha alma ainda sangra com as memórias. Mas sei que não estive sozinha nesta jornada. Ao meu lado, estiveram outros familiares que partilharam o mesmo sofrimento, a mesma revolta.
Hoje, ergo a minha voz não só em nome do meu pai, mas de todos os idosos que sofrem em silêncio nos corredores dos hospitais, vítimas de um sistema que os deveria proteger. Esta exposição não é apenas um alerta, é um grito de guerra pela dignidade humana.
Peço-vos que se juntem a mim nesta luta, que ergam as vossas vozes em nome dos mais vulneráveis. Que estejamos unidos na exigência de mudança, na defesa dos direitos daqueles que já tanto deram à sociedade. O meu pai pode ter saído daquele hospital quase sem vida, mas o seu espírito continua a lutar ao meu lado. E, juntos, vamos lutar até que cada idoso seja tratado com o respeito e a dignidade que merece.
De seguida, junto fotografias comprovativas da situação que alego, dentro daquilo que me foi permitido fotografar em algum momento. Não pretendo com estas fotografias chocar ninguém, apenas alertar para o que ocorre por este país fora. Estamos juntos.

A imagem das mãos do meu pai, enclausuradas em luvas extremamente apertadas, ainda assombra os meus pensamentos. Dias se passaram e aquelas luvas, mais do que acessórios de proteção, tornaram-se instrumentos de tortura. Apertadas, sem espaço de manobra.
Imaginei as suas mãos enrugadas, que um dia me seguraram com firmeza e carinho, agora aprisionadas e sufocadas pela negligência de quem deveria zelar pelo seu bem-estar. Cada vez que o via a tentar movimentar os dedos, era como se o meu próprio coração se apertasse numa angústia sufocante.
Perguntei inúmeras vezes aos responsáveis pelo seu cuidado sobre aquelas luvas, sobre a razão subjacente ao facto de as manterem mesmo quando era evidente o seu desconforto. As respostas que obtive foram vagas, evasivas, como se aquela situação não fosse uma prioridade.
Mas, para mim, para o meu pai, aquilo era tudo menos irrelevante. Era uma violação da sua dignidade, uma demonstração cruel de desrespeito pela sua humanidade. As mãos que tanto trabalharam ao longo da vida, que tanto deram àqueles que amava, mereciam mais do que aquela humilhação silenciosa.
Não podemos fechar os olhos a estas atrocidades, a estas pequenas grandes violações dos direitos humanos. Cada detalhe, por mais insignificante que possa parecer, conta uma história de dor e sofrimento. E é nossa responsabilidade, enquanto sociedade, garantir que essas histórias não se repitam.

A visão do meu pai, amarrado à cama como se fosse um prisioneiro, é uma ferida que ainda não cicatrizou na minha alma. Cada vez que fecho os olhos, vejo-o ali, impotente, privado da sua liberdade mais básica, enquanto a vida – e a morte – continuava a passar ao seu redor.
As cordas que o prendiam eram mais do que meros objetos físicos; eram correntes que o ligavam a um sofrimento insuportável, a uma existência que deixara de ser sua. Vi a sua dignidade ser dilacerada, as suas vontades ignoradas, enquanto ele lutava em vão contra as amarras que o mantinham prisioneiro daquele leito de hospital.
Questiono-me vezes sem conta sobre o motivo pelo qual o meu pai foi sujeito a esta cruel forma de contenção. Será que alguém sequer parou para considerar o impacto devastador que isso teria na sua saúde física e mental? Será que alguém se importou com a sua angústia, com a sua desesperança?
A resposta, infelizmente, parece-me clara: o meu pai foi vítima de um sistema que falhou em protegê-lo, em reconhecer a sua humanidade. Em vez de cuidar dele com compaixão e respeito, optaram por aprisioná-lo, por negar-lhe a sua essência de ser humano.
Mas não posso ficar em silêncio perante esta injustiça. A minha voz ergue-se em protesto, em nome do meu pai e de todos os idosos que sofrem sem voz. Exijo que sejam tomadas medidas para garantir que ninguém mais seja submetido a esta forma desumana de tratamento.
Ninguém merece ser privado da sua liberdade, da sua dignidade. Todos os seres humanos têm o direito inalienável de viver com respeito e autonomia. E é minha missão assegurar que essa verdade seja reconhecida por todos.
Que a história do meu pai não seja em vão. Que cada corda que o prendeu à cama seja uma chamada de atenção para a urgência de mudança. Que possamos construir um mundo onde os idosos sejam tratados com o amor e a dignidade que merecem.

O meu coração apertou-se ainda mais ao ver os hematomas que marcavam o braço do meu pai, como vestígios silenciosos de um sofrimento que não deveria existir. Cada mancha roxa era uma prova visual do abuso físico que ele havia sofrido, uma lembrança dolorosa da violência que lhe fora infligida.
Aquele braço, que tantas vezes me segurou com ternura, agora exibia as marcas de uma crueldade inimaginável. Tentei imaginar as circunstâncias que levaram àqueles hematomas, mas cada pensamento só aumentava a minha revolta, a minha indignação perante tamanha injustiça.
Como é possível que alguém possa olhar para aqueles hematomas e não sentir compaixão, não sentir a necessidade urgente de intervir? Como é possível que a violência contra os mais vulneráveis continue a passar impune, como se fosse algo trivial, algo aceitável?
As lágrimas que correram pelo meu rosto naquele momento não eram apenas de tristeza, mas também de raiva, de frustração perante a impotência de não poder mudar o passado, de não poder apagar as marcas que ficaram gravadas na pele e na alma do meu pai.
Mas recuso-me a aceitar que aquelas marcas sejam o fim da história. Elas serão o combustível que alimenta a minha determinação, a minha vontade de lutar por um mundo onde os idosos sejam tratados com o respeito e a dignidade que merecem.

Além dos hematomas que marcavam o seu braço, outra imagem que assombrou os meus pensamentos foi esta. Uma fita apertada em torno do seu tórax, como se cada respiração fosse um desafio a ser superado. Aquele aperto não só dificultava a sua respiração, mas também simbolizava a opressão que ele enfrentava a cada instante naquele hospital.
Observar meu pai lutar para respirar, para encontrar um pouco de alívio naquele sufocante ambiente hospitalar, era uma agonia. Cada suspiro era um lembrete doloroso da sua vulnerabilidade, da sua condição de prisioneiro daquele lugar que deveria ser um refúgio de cura e cuidado.
A fita que o apertava não era apenas um objeto físico; era um símbolo de tudo o que estava errado naquele sistema de saúde, de todas as falhas que permitiam que os mais frágeis fossem tratados com tanta negligência. Era como se a sua própria vida estivesse a ser comprimida por aquela fita, como se cada batimento do seu coração fosse um esforço sobre-humano.

Os dedos do meu pai, aprisionados nas luvas que deveriam protegê-los, transformaram-se em testemunhos silenciosos de uma história de dor e negligência. Ao invés de acolhimento, encontraram confinamento; ao invés de conforto, encontraram opressão.
Com o passar dos dias, os dedos começaram a revelar os sinais visíveis do seu sofrimento. Inchados e distorcidos, pareciam lutar para se libertar do aperto implacável das luvas. Cada articulação, uma batalha perdida contra a pressão constante, uma lembrança dolorosa da sua condição frágil.
A imagem daquelas mãos inchadas ecoa a injustiça de um sistema que falhou em proteger os mais vulneráveis. Ao segurar aquelas mãos frágeis nas minhas, sentia-me impotente perante a magnitude do seu sofrimento.
Cada dedo inchado era um lembrete doloroso da sua vulnerabilidade, da sua dependência de cuidados que lhe foram negados. E enquanto eu olhava para aquelas mãos que um dia foram tão fortes, prometi a mim mesma que não descansaria até que a justiça fosse feita.

Esta fotografia, que seguro nas mãos, mostram uma realidade cruelmente contrastante com as mentiras escritas nos registos do hospital. Na imagem, o pequeno-almoço do meu pai permanecia intocado, como uma testemunha silenciosa da sua incapacidade de se alimentar. No entanto, os registos oficiais contavam uma história diferente, uma narrativa fabricada para esconder a verdade.
Era difícil ignorar a discrepância entre a fotografia e os relatos escritos, entre a realidade palpável e a ficção criada para encobrir a negligência. Aquelas mentiras escritas nos registos eram mais do que meros equívocos; eram uma traição à confiança que deveríamos poder depositar naqueles que cuidam dos nossos entes queridos.
Cada palavra falsa escrita nos registos era uma afronta à dignidade do meu pai, uma negação da sua realidade, do seu sofrimento. Era como se tentassem apagar a sua existência, substituindo-a por uma versão conveniente da verdade que lhes permitia lavar as mãos da sua responsabilidade.
Em retrospetiva, sinto uma mistura avassaladora de raiva e tristeza. Raiva pela injustiça flagrante da situação, tristeza pela impotência de não poder desfazer as mentiras que se acumulavam. Mas também uma determinação renovada, uma vontade inabalável de expor a verdade, de fazer justiça em nome do meu pai e de todos os que sofreram nas mãos de um sistema que falhou em protegê-los.

Dentro deste frasco, existia uma mistura de secreções com sangue, uma prova irrefutável da violência que fora infligida ao corpo frágil do meu pai. A inserção do tubo, realizada de forma agressiva e sem o seu consentimento, deixara feridas profundas, dentes partidos, sangue na boca, feridas tanto físicas quanto emocionais.
Aquela situação era mais do que uma simples evidência médica; era um retrato vívido da injustiça, da violação dos direitos humanos mais básicos. Era uma lembrança dolorosa de que, mesmo nos lugares onde se espera encontrar cuidado e cura, a crueldade pode encontrar um lar.
Contemplar aquele frasco era enfrentar a verdade inconveniente de que a confiança pode ser traída, de que a vulnerabilidade pode ser explorada em nome de um suposto cuidado.

Na quietude do quarto, o meu pai repousava, a sua figura encolhida e a sua expressão serena escondendo a indignidade que o envolvia. Ele, que sempre fora um homem de ação, agora estava reduzido à imobilidade forçada, uma prisão silenciosa que o mantinha cativo de uma realidade dolorosa.
Ver meu pai assim, quieto e sem se poder mexer, era um golpe no coração, uma ferida que sangrava a cada respiração. Ele, que sempre fora um símbolo de força e determinação, agora estava reduzido ao silêncio, sua voz perdida no vazio que o cercava.
Não era apenas a falta de movimento que me angustiava, mas sim a ausência de dignidade que envolvia cada fibra do seu ser. Ele não merecia estar ali, preso numa existência desprovida de sentido, destituído da humanidade que sempre o distinguira.
Era como se a sociedade lhe tivesse virado as costas, como se tivesse decidido que já não tinha valor, que já não merecia ser tratado com respeito e compaixão. Mas eu sabia que isso não era verdade. O meu pai ainda era o mesmo homem que me ensinara a andar de bicicleta, que me abraçara nos momentos difíceis, que me ensinara o verdadeiro significado da palavra amor.
Enquanto eu o observava, a sua quietude era um lembrete doloroso de que a luta pela dignidade humana é uma batalha que não pode ser ignorada. Ele merecia mais do que aquilo, mais do que a resignação e a indiferença. Merecia ser tratado com o respeito e a dignidade que sempre demonstrara aos outros.

Uma fotografia, tão dolorosa quanto poderosa, demonstra o momento em que o meu pai regressou a casa, praticamente morto, após ter saído a caminhar uns dias antes. O contraste entre a imagem daquele homem debilitado e a memória do pai forte e vigoroso que um dia fora era avassalador.
Ele regressou à casa que sempre fora o seu refúgio, mas agora parecia mais uma sombra do homem que um dia fora. O seu corpo, outrora cheio de vitalidade, agora jazia sob o peso do sofrimento, cada respiração uma luta contra a própria natureza. Os seus olhos, outrora cheios de luz e alegria, agora eram opacos, vazios de esperança.
Aquela fotografia era um testemunho visual do que acontecera naqueles dias de ausência. Uma jornada solitária pela escuridão, onde cada passo o afastava mais da vida, mais da luz. E mesmo quando regressou ao seu lar, não encontrou o conforto e a paz que tanto ansiava.
A sua chegada foi mais do que um retorno; foi um grito desesperado por ajuda, por compaixão, por um último vislumbre de dignidade.
Aquela fotografia será para sempre uma lembrança da fragilidade da vida, da urgência de cuidarmos uns dos outros enquanto ainda podemos. Será também um lembrete do preço terrível que se paga quando falhamos nessa empreitada, quando permitimos que os mais vulneráveis sejam abandonados à sua sorte.
Que a experiência do meu pai seja mais do que um símbolo da sua marginalização; que seja uma chamada de atenção, um lembrete de que cada vida tem valor, cada voz merece ser ouvida. A minha voz continua a clamar por justiça, por dignidade, por um futuro onde os idosos sejam celebrados e respeitados. E espero que se juntem a mim nesta jornada pela defesa dos direitos humanos e pela proteção dos mais vulneráveis.
Amarrar pacientes só deve ser possível em casos excepcionais.
E só em casos excepcionais é que deve ser possível amarrá-los à cama (a chamada contenção física). Em fase terminal, com dias ou semanas de vida, os doentes e os seus familiares devem ter acesso a informação sobre os diferentes cenários clínicos e os tratamentos disponíveis. (ver texto na integra abaixo)
A lei é apenas uma folha de papel, sem alma nem pulso. Promete direitos, mas na realidade, muitas vezes, falha em cumpri-los. Onde está a aplicação efetiva dessas garantias quando vejo velhinhos indefesos, amarrados às camas dos hospitais, privados da sua liberdade até nos momentos finais da vida?
Como é que ousam justificar a contenção física como algo excecional? Excecional deveria ser o respeito pela dignidade humana, não a privação de movimento de alguém que mal consegue erguer a cabeça. Como é que se atrevem a amarrar um idoso de 96 anos, como se ele fosse um criminoso perigoso?
E onde está a informação para as famílias e para os próprios doentes? Numa lei que supostamente os protege, não deveria haver um esforço incansável para garantir que todos entendem os seus direitos e opções? Mas não, em vez disso, o silêncio reina, e a decisão é deixada aos médicos, como se fossem os únicos que sabem o que é melhor para o paciente.
E o consentimento? Ah, esse luxo parece ser dispensável. Quem se importa com a vontade do paciente ou dos seus entes queridos quando se trata de administrar tratamentos ou procedimentos invasivos? Afinal, são apenas velhinhos à beira da morte, que importância tem a sua opinião?
E não me venham com desculpas sobre a Covid-19. Sim, foi uma pandemia, mas isso não justifica o isolamento forçado dos idosos dos seus familiares e entes queridos. A lei pode ser usada como uma desculpa conveniente para justificar todas as formas de abuso e negligência, enquanto os mais vulneráveis são mantidos em silêncio, amordaçados pela indiferença e pela burocracia.
Não, não podemos continuar assim. Não podemos aceitar que os nossos velhinhos sejam tratados como objetos descartáveis, privados da sua dignidade e dos seus direitos mais básicos. É hora de levantar a voz, de exigir mudanças reais, de lutar por um sistema de saúde que respeite verdadeiramente a vida e a dignidade de todos os seus pacientes, independentemente da idade ou condição.
É hora de responsabilizar aqueles que abusam do poder e da autoridade, aqueles que usam a lei como uma máscara para encobrir a sua negligência e crueldade. Não podemos permitir que a legislação seja usada como uma arma para silenciar as vozes dos que mais precisam de ser ouvidos.
Cada velhinho amarrado à sua cama, cada família ignorada e deixada às escuras, é um testemunho da falha do sistema em proteger os mais vulneráveis. É uma afronta à nossa humanidade coletiva, uma mancha na nossa consciência que não pode ser apagada.
Precisamos de mais do que palavras em papel. Precisamos de ação. Precisamos de transparência, de prestação de contas, de empatia. Precisamos de um sistema de saúde que coloque as pessoas em primeiro lugar, que respeite a sua autonomia e dignidade até ao último suspiro.
Não podemos continuar a aceitar desculpas. Não podemos continuar a permitir que os nossos idosos sejam tratados como cidadãos de segunda classe. Chegou o momento de nos levantarmos e exigirmos justiça, dignidade e respeito para todos, independentemente da idade ou condição.
(Abaixo está a publicação no jornal “Público”, sobre o que foi acordado na Lei n.º 31/2018, de 18 de julho, cujo texto se segue:)
"Doentes terminais podem pedir sedação e recusar comida. Mas médicos é que decidem
Nova lei enumera direitos que já existem e reforça-os. Prevista aceitação de sedação paliativa para doentes com semanas ou dias de vida e “sofrimento não controlado”.
Amarrar pacientes só deve ser possível em casos excepcionais. Em Portugal há 22 mil testamentos vitais.
Os doentes em fim de vida e com “sofrimento não controlado” têm o direito de receber sedação paliativa e de recusar alimentos, mas a decisão final cabe sempre aos médicos. E só em casos excepcionais é que deve ser possível amarrá-los à cama (a chamada contenção física). Em fase terminal, com dias ou semanas de vida, os doentes e os seus familiares devem ter acesso a informação sobre os diferentes cenários clínicos e os tratamentos disponíveis.
São direitos que já existem mas que agora estão expressos numa só lei, que foi publicada há duas semanas depois de ter sido aprovada em Maio pelo CDS-PP e o
PSD na Assembleia da República com a abstenção dos restantes bancadas, numa altura em que o debate sobre a despenalização da eutanásia (que foi chumbada) estava ao rubro.
Intitulada “Direitos das pessoas em contexto de doença avançada e em fim de vida”, a lei agora publicada em Diário da República e já em vigor passou despercebida, lamenta Isabel Galriça Neto, médica e deputada do CDS-PP que é co-autora do diploma e uma das personalidades que mais se empenhou na luta contra a legalização da eutanásia.
Para a deputada que dirige a Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital privado da Luz, a relevância deste diploma não decorre apenas do facto de ser “uma compilação e densificação” dos direitos das pessoas em fim de vida, mas, sobretudo, da circunstância de chamar a atenção para o direito ao recurso à sedação paliativa (fármacos para aliviar sintomas e reduzir o nível de consciência) no caso dos doentes com doença avançada, incurável e irreversível, com prognóstico vital estimado de seis a 12 meses e em sofrimento intolerável. A médica destaca igualmente as regras estritas para a “amarração” dos doentes.
“Esta lei vem agrupar coisas dispersas e reforçar direitos que não estão garantidos em Portugal. É uma chamada de atenção para a sociedade civil e para os profissionais de saúde, até porque há muito más práticas em fim de vida por esse país fora. A obstinação terapêutica continua a acontecer”, acentua Galriça Neto.
De igual forma, acrescenta, “há por aí muita sedação mal feita, há médicos que põem doentes a dormir sem saberem o que estão a fazer”, quando este é um direito que assiste aos doentes, ainda que em situações específicas. Esta é uma prática usada em cerca de 10% dos casos, prescrita sobretudo para garantir que os pacientes não serão deixados numa situação de “sofrimento intolerável e angústia atroz”. Mas com regras, de acordo com a boa prática clínica, enfatiza. “Não é dizer ‘eu quero ser sedado’, mas sim ‘eu não quero estar num sofrimento intolerável’”, explicita, asseverando que tal não implica provocar a morte das pessoas. Quanto ao direito à recusa alimentar, esse também está previsto nos últimos dias de vida nesta lei.
Em Portugal, as pessoas que fazem testamento vital já podem deixar esta vontade expressa, desde que o objetivo seja o de aliviar o sofrimento, mas, apesar do aumento assinalável desde que se começou a falar na legalização da eutanásia, o número destes documentos ainda é pouco significativo (no final de Julho havia 22.082 testamentos vitais, 7610 registados por homens e 14.472 por mulheres).
O acesso à sedação paliativa em Portugal é muito mais limitados do que sucede em França, onde o Parlamento aprovou em 2015 o recurso à sedação profunda. Ali, um doente em fim de vida pode pedir a sedação, que é administrada em casa ou no hospital, enquanto em Portugal a decisão cabe sempre à equipa médica.
“Esta lei vem agrupar coisas dispersas e reforçar direitos que não estão garantidos em Portugal. É uma chamada de atenção para a sociedade civil e para os profissionais de saúde, até porque há muito más práticas em fim de vida por esse país fora;
Frisando que “ainda há muito más práticas em fim de vida por esse país fora”, a
deputada critica de forma enfática a prática sistemática de contenção física que se faz nalguns hospitais. “Se for a uma urgência sem avisar, vai ver doentes amarrados pelos punhos e pés. Não há razões que justifiquem isto”, diz a médica, lembrando que existe a alternativa da contenção química, que passa por administrar fármacos em doses adequadas.
Na lei também está previsto um conjunto de direitos dos familiares ou cuidadores dos doentes terminais em casa, nomeadamente o direito a receber formação adequada e apoio estruturado, proporcionados pelo Estado, e os profissionais de saúde devem requerer o direito ao seu descanso sempre que tal se justifique. Os médicos de família têm igualmente a obrigação de sinalizar todos os casos de doentes que não tenham acesso a apoio estruturado.
Mas isso não será pedir demais numa altura em que os cuidados paliativos continuam a ser muito insuficientes em Portugal? “A sociedade civil tem que começar a debater este tema tabu”, desafia a Galriça Neto.
A nova lei explicita que as pessoas em fim de vida têm o direito de receber cuidados paliativos através do SNS, estando englobados neste conceito os apoios espiritual e religioso, caso o doente manifeste essa vontade, tal como o apoio estruturado à família, que se pode prolongar até à fase de luto."
Fonte:"https://www.publico.pt/2018/08/02/sociedade/noticia/doentes-terminais-podem-pedir-sedacao-e-recusar-comida-mas-medicos-e-que-dec"
Os Direitos dos Idosos em Situação Hospitalar: Uma Reflexão sobre Dignidade e Respeito
Na sociedade contemporânea, a velhice é um estágio da vida marcado por uma série de desafios e perceções distintas. Tradicionalmente definida pela idade avançada, a velhice transcende a mera questão cronológica, envolvendo aspetos físicos, psicológicos e sociais que influenciam profundamente a experiência individual de cada idoso. No contexto atual, a presença crescente de idosos na população gera reflexões sobre o seu papel e valor dentro da sociedade, muitas vezes destacando questões relacionadas com a dignidade e os direitos humanos.
1. O que é a Velhice?
A velhice é um estágio natural da vida, caracterizado pelo envelhecimento biológico e pela acumulação de experiências ao longo dos anos. É um período em que as capacidades físicas e cognitivas podem diminuir gradualmente, impactando a autonomia e a independência dos indivíduos. No entanto, a velhice não deve ser vista apenas como uma fase de declínio, mas sim como um momento de sabedoria e potencial de contribuição significativa para a sociedade como um todo.
2. O Papel dos Idosos na Sociedade
Os idosos desempenham um papel crucial na nossa sociedade, representando a memória viva de épocas passadas, transmitindo conhecimento e valores às gerações mais jovens. No entanto, apesar desse papel fundamental, muitos idosos enfrentam estigmas e preconceitos, sendo erradamente considerados um “estorvo” devido às suas necessidades específicas e à perceção de serem menos produtivos economicamente.
3. Dignidade e Negligência nos Cuidados Hospitalares
A dignidade é um direito humano fundamental que deve ser garantido a todos, independentemente da idade ou condição física. Infelizmente, nos hospitais e centros de cuidados geriátricos, a aplicação desse direito muitas vezes é negligenciada. Os idosos frequentemente enfrentam condições desumanas, incluindo falta de privacidade, tratamento desrespeitoso e, em alguns casos, abuso físico e emocional.
4. Exemplos da Realidade Hospitalar em Portugal
Em Portugal, como em várias partes do mundo, os idosos hospitalizados deparam-se frequentemente com desafios significativos e até mesmo várias adversidades. Estas dificuldades são exacerbadas pela escassez de pessoal de saúde qualificado e pela inadequação de recursos necessários para oferecer um cuidado eficaz e compassivo. Esta situação pode, infelizmente, resultar em práticas que comprometem a dignidade e o bem-estar dos idosos, refletindo-se em ações desumanas que vão desde restrições físicas desnecessárias até a falta de comunicação e isolamento.
A restrição injustificada de movimento é uma das práticas mais preocupantes encontradas nalguns ambientes hospitalares. Isso pode incluir o uso excessivo de suportes físicos, como grades nas camas ou até mesmo restrições químicas, como sedativos desnecessários, privando os idosos de sua autonomia e conforto. Tais medidas, muitas vezes aplicadas sem uma avaliação cuidadosa das necessidades individuais do paciente, podem levar a consequências físicas e psicológicas negativas.
Outro problema comum é a administração de medicamentos sem o consentimento informado dos idosos ou dos seus familiares. A falta de comunicação clara sobre os tratamentos e os seus potenciais efeitos colaterais podem deixar os idosos vulneráveis e sem controlo sobre as suas próprias decisões médicas. Tal é particularmente preocupante num contexto onde muitos idosos já enfrentam desafios cognitivos ou de comunicação.
Além disso, o isolamento social é uma realidade triste para muitos idosos hospitalizados. A separação prolongada das suas redes de apoio social, como familiares, amigos e comunidade, pode levar a um declínio emocional e psicológico significativo. A solidão e a falta de interação humana podem agravar condições de saúde existentes e diminuir a qualidade de vida dos pacientes mais velhos.
A raiz desses problemas muitas vezes está na sobrecarga dos sistemas de saúde, que enfrentam demandas crescentes em face de recursos limitados. A falta de pessoal qualificado, incluindo enfermeiros e auxiliares de saúde, resulta numa atenção menos individualizada e em práticas que visam mais a eficiência do que o bem-estar holístico dos pacientes.
É fundamental que essas questões sejam abordadas de maneira sistemática e urgente. O respeito pela dignidade e pelos direitos dos idosos hospitalizados deve ser uma prioridade absoluta em todos os níveis do sistema de saúde. Tal inclui investimentos adequados em formação de pessoal, protocolos de cuidado centrados no paciente e uma cultura de respeito pela autonomia e pelo bem-estar dos idosos.
Em última análise, a qualidade do cuidado oferecido aos idosos hospitalizados é um reflexo da qualidade da sociedade em que vivemos. É um indicador do nosso compromisso coletivo com a humanidade e a justiça social. A consciencialização e a ação são essenciais para promover mudanças significativas e garantir que os idosos recebam o respeito e o cuidado que merecem em todas as fases das suas vidas.
5. Crítica aos Comportamentos Justificativos
É lamentável que alguns profissionais de saúde não prestem o devido respeito aos idosos, muitas vezes usando desculpas como dificuldades de comunicação ou cognitivas para justificar tratamentos desrespeitosos. Essa postura revela uma preocupante falta de sensibilidade e compromisso com os princípios éticos fundamentais da prática médica.
A idade avançada não deve ser motivo para que os profissionais de saúde negligenciem o respeito e a dignidade dos idosos. É crucial reconhecer que cada paciente, independentemente da idade ou das limitações, merece ser tratado com respeito, empatia e consideração.
A comunicação eficaz com os idosos, especialmente aqueles com dificuldades de comunicação ou cognitivas, requer paciência e adaptação por parte dos profissionais de saúde. Em vez de considerarem essas limitações como uma razão para tratamentos desrespeitosos, os profissionais devem procurar estratégias alternativas para garantir uma interação respeitosa e inclusiva.
Além disso, é essencial que os profissionais de saúde recebam formação contínua sobre ética médica e sensibilidade cultural, especialmente no que diz respeito ao atendimento de pacientes idosos.
Respeitar os idosos vai além de simplesmente seguir protocolos médicos; trata-se de reconhecer a sua humanidade e valor intrínseco. Os profissionais de saúde têm a responsabilidade moral e ética de garantir que todos os pacientes sejam tratados com dignidade, independente de suas condições físicas, mentais ou emocionais.
Em última análise, a qualidade do cuidado oferecido aos idosos reflete diretamente os valores éticos e a integridade da profissão médica como um todo. É fundamental que todos os profissionais de saúde se comprometam com o respeito e a ética no tratamento de idosos, contribuindo para uma sociedade mais compassiva e inclusiva.
6. Sedação e Perda de Autonomia
O uso excessivo de sedativos em pacientes idosos pode resultar na perda de autonomia e na incapacidade de se lembrarem ou contestarem procedimentos médicos. Essa prática questionável priva os idosos do direito fundamental à consciência e ao consentimento informado.
7. Onde Está o Respeito e a Dignidade?
Os direitos dos idosos, incluindo a dignidade e o respeito, estão consagrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Constituição Portuguesa. No entanto, na prática, esses direitos muitas vezes são ignorados ou subjugados em prol de conveniências institucionais. Lê-se assim no artigo 72.º da Constituição da República Portuguesa:
“1. As pessoas idosas têm direito à segurança económica e a condições de habitação e convívio familiar e comunitário que respeitem a sua autonomia pessoal e evitem e superem o isolamento ou a marginalização social. 2. A política de terceira idade engloba medidas de carácter económico, social e cultural tendentes a proporcionar às pessoas idosas oportunidades de realização pessoal, através de uma participação activa na vida da comunidade”.
8. Limitação Injustificada de Visitas Familiares
A imposição de horários restritos para visitas familiares em hospitais pode prejudicar ainda mais a qualidade de vida dos idosos, limitando sua interação social e afetiva. Essas restrições levantam dúvidas sobre os verdadeiros interesses por trás das políticas hospitalares.
9. Abusos e Falta de Consentimento
É lamentável que os idosos sejam frequentemente vítimas de abusos e negligência nos cuidados de saúde. A falta de consentimento informado para procedimentos médicos essenciais compromete seriamente a sua dignidade e autonomia.
10. Defesa dos Direitos dos Idosos sem Família
A defesa dos direitos dos idosos desprovidos de apoio familiar é uma responsabilidade compartilhada pela sociedade como um todo. Instituições governamentais, organizações não governamentais e profissionais de saúde têm o dever de garantir que todos os idosos recebam cuidados dignos e respeitosos.
11. Situações de Abuso e Desrespeito
Situações de abuso e desrespeito pelos idosos são inaceitáveis. Administrar medicamentos sem consentimento, realizar tratamentos invasivos sem autorização e submeter os idosos a condições degradantes violam não apenas os direitos humanos mas toda a ética médica.
O envelhecimento costuma trazer consigo diversas mudanças e desafios, além da perda ou redução da mobilidade, traz maior propensão a doenças, tais como demências, perda de visão e audição, traz também um silêncio, onde o tempo parece parar e as sombras alongam-se preguiçosamente pelo chão, e onde habita uma solidão que poucos entendem verdadeiramente. É a solidão dos idosos, uma companheira impiedosa que se instala sem convite, preenchendo os espaços vazios das memórias e dos corações.
Quando a juventude se desvanece, leva consigo o bulício e a vivacidade dos dias, deixando uma quietude que, por vezes, se torna insuportável. As visitas esporádicas dos familiares, as chamadas breves e os encontros ocasionais não conseguem preencher o vazio constante. É nesta solidão que muitos idosos se perdem, sentindo-se como folhas caídas, levadas pelo vento sem destino certo.
No entanto, há um poder inegável na companhia, por mais breve e fugaz que seja. Uma mão que se estende, um sorriso sincero, um olhar de compreensão podem mudar o mundo de um idoso solitário. Há uma magia na presença dos outros, na simples demonstração de que alguém se importa. É um gesto que não só aquece o coração, mas também renova a esperança, trazendo uma luz ténue, mas persistente, na escuridão da solidão.
A dedicação dos outros, ainda que indireta, possui uma força transformadora. Uma carta escrita com carinho, uma chamada inesperada, um gesto de gentileza, são pequenas âncoras que mantêm os idosos ligados ao mundo, impedindo-os de se afundarem no mar da tristeza. Essas manifestações de afeto, por mais simples que possam parecer, têm um impacto profundo e duradouro. Elas demonstram que, apesar do isolamento, os idosos não são esquecidos. Existe uma rede invisível de afeto e cuidado que os envolve, proporcionando uma sensação de pertença e valorização.
A companhia traz consigo uma tranquilidade única. Saber que há alguém que se preocupa, que está disposto a ouvir histórias do passado, que valoriza as experiências e as sabedorias acumuladas ao longo dos anos, é um bálsamo para a alma. É na partilha que a solidão se dissipa, mesmo que momentaneamente, substituída por uma paz reconfortante. Os idosos encontram força nas conexões que estabelecem, por mais efémeras que sejam, e essa força revigora-os, dá-lhes motivo para sorrir, para se levantarem todos os dias.
Há uma beleza incomensurável na dedicação de quem se importa, de quem faz um esforço para estar presente, mesmo quando a vida moderna impõe tantas distrações e pressões. Cada visita, cada telefonema, cada pequeno ato de gentileza são testemunhos de um amor que transcende o tempo e as circunstâncias. Estes gestos são sementes de esperança plantadas em corações que muitas vezes se sentem esquecidos e negligenciados.
O poder da companhia, de uma mão estendida em amizade, de um coração aberto e dedicado, é imensurável. Ele traz uma calma e uma força que muitas vezes são a única tábua de salvação para aqueles que vivem na solidão. É um lembrete constante de que, mesmo nos momentos mais sombrios, há sempre uma luz de humanidade e compaixão pronta a brilhar.
Que nunca nos esqueçamos dos nossos idosos, das suas histórias, das suas vidas tão ricas em experiências. Que continuemos a estender-lhes as nossas mãos, a dedicar-lhes o nosso tempo, a oferecer-lhes a nossa companhia. Pois na nossa presença, encontramos a verdadeira essência da humanidade: o amor e a compaixão que unem gerações, que transcendem o tempo, e que aquecem os corações mais solitários.
Sejamos uma verdadeira companhia na vida dos idosos!!
O que me trouxe a tua partida?
Esta pergunta tem trazido consigo uma mistura de sentimentos e reflexões que antes talvez ainda não tivesse permitido emergir.
Questiono-me se foi preciso a tua partida para que eu sentisse saudades, refletisse profundamente sobre a nossa família, sentisse a tua falta de forma tão intensa e carregasse estes remorsos tão grandes no peito. Fiquei profunda e irremediavelmente infeliz.
Será que isto é tudo o que me resta?
Por outro lado, não posso deixar de me perguntar se, em algum momento, senti algum alívio, como se me tivesse livrado de um estorvo. Sei que, para muitos, a tua partida significou apenas livrar-se de um empecilho, um consolo disfarçado de lucro. Essa ideia do lucro atormenta-me, pensar que para eles o que está em causa é que se repartam bens e dinheiro, quando nunca tiveram o mínimo de atenção ao teu ser. Nunca te perguntaram se estavas bem, nunca te ofereceram um copo de água, uma palavra de conforto ou um abraço. Tu, que estavas sempre de braços abertos para todos e a quem uma pequena migalha de carinho fazia o dia. Não exigias, não estavas em posição de exigir; estavas apenas no teu canto, a olhar para aquela porta implacável que teimava em não abrir.
Esperavas pacientemente que um pedacinho de amor caísse e te arrancasse um sorriso. A porta, todavia, continuou sempre fechada. As horas passaram e tu permaneceste em silêncio, a contar os minutos, a imaginar quando voltarias a receber outra migalha. Mas ela tardou e tardou e tardou. Do outro lado da porta, não havia espaço para ti. Passaste a ser um estorvo, não havia carinho, não havia uma palavra bonita, só orgulho e falta de tempo. E tu não pudeste esperar mais. Depois da tua partida, aparecem de repente, apressadamente, persistentemente, a exigir algo, a exigir que tudo seja distribuído. Pensar que construíste uma casinha e uma família durante tantos anos e, num ímpeto, tudo se desmorona.
E que apesar da porta estar fechada para alguns mais queridos, a mesma porta esteve sempre aberta para tudo aquilo que te podia dar e sei que te dei muito, mais do que eu imaginava, mais do que tantos velhinhos recebem, tentei colmatar esse vazio, apesar de não o mostrares, sei que doeu e doeu e doeu, mas continuaste forte, firme e determinado e como eu te admirei por isso, mas essa porta incomplacente esteve sempre aberta para ti no meu coração.
Agora, resta-me lidar com a realidade dura e crua, enquanto a tua memória persiste, lembrando-me do amor que ofereceste e da indiferença que recebeste em troca.
Não me parece que seja o tempo de esquadrinhar heranças e esfregar as mãos de ganância. Será que é isto que se espera? será que é isso o que realmente importa? Estes pensamentos obscuros invadem a minha mente, trazendo à tona uma verdade desconfortável.
A velhice, muitas vezes, é vista como um estorvo. A morte, para muitos dos que cá ficam, é um consolo, um benefício, um alívio. Mas onde estão os valores que nos foram incutidos? Será que a sociedade já não nos transmite esses valores? Os princípios nem sempre vêm da família; eles vêm também de nós mesmos, das nossas experiências em sociedade, da escola e de todas as interações que moldam o nosso caráter. Contudo, parece que nos esquecemos deles.
Optamos por achar que nos livramos de um fardo, que a morte trouxe um bálsamo. Mas, e nós? Como será o nosso futuro? Teremos o revés da moeda? Aplicar-se-á a lei do retorno, do karma divino? Será a ética a governar o nosso destino?
Que futuro e que sociedade estamos a construir e na qual estamos inseridos? Talvez seja por isso que certas instituições tratam os velhinhos de forma tão negligente. Esquecemos que a responsabilidade de um mundo melhor passa pelas nossas ações, pela nossa responsabilidade, pela nossa educação.
É certo que, por vezes, as famílias estão envolvidas em teias extremamente complicadas, mas tal não serve para justificar a forma como tratamos os velhinhos e os mais vulneráveis.
Há famílias onde os pais nunca foram à escola e, apesar disso, têm valores. E nós? Temos tanta informação ao nosso alcance, basta um clique na internet e toda a informação está ali, logo à nossa frente. Contudo, parece que não somos capazes de pensar e trabalhar para sermos melhores. Pelo contrário, estamos ocupados demais e vazios por dentro, incapazes de refletir, de dedicar alguma ponderação, de transformar e buscar uma verdadeira mudança.
Os velhinhos e outras pessoas vulneráveis parecem não fazer parte da sociedade. Ficam para ali, num canto, como se não tivessem sentimentos, vontades, vozes, ouvidos. Não são informados, a sua opinião não interessa, e o que dizem muitas vezes não é bem aceite. Acreditamos que não precisam de carinho, que não precisamos de perguntar-lhes nada, nem de pedir o seu consentimento. Há uma clara imposição, visível em muitos contextos, mas talvez mais evidente no meio hospitalar.
Nos hospitais, esta imposição é particularmente preocupante. Os velhinhos são tratados com uma frieza que ignora a sua dignidade. Não lhes é dada voz, e as decisões são tomadas por eles, não com eles. Esta atitude desumaniza-os, reduzindo-os a meros objetos de cuidado, em vez de seres humanos com uma riquíssima história de vida, com sentimentos e com direitos.
Cada um de nós, em algum momento, pode encontrar-se na mesma posição. A nossa sociedade tem a responsabilidade de mudar esta realidade. É necessário lembrarmo-nos dos valores que nos foram incutidos e aplicá-los em todas as nossas ações. Devemos lutar por uma sociedade mais justa e compassiva, onde eles sejam tratados com o respeito e a dignidade que merecem.
A educação tem um papel fundamental neste processo. Nas escolas, deve incutir-se desde cedo o respeito pelos mais frágeis. Não basta apenas ensinar matérias académicas; é essencial cultivar valores humanos, como empatia, compaixão e respeito. Estas lições são tão importantes quanto qualquer outra, pois moldam a forma como tratamos os outros ao longo da vida.
As instituições, tanto públicas como privadas, também têm uma responsabilidade significativa. Devem garantir que os cuidados prestados aos idosos são de qualidade, baseados no respeito e na dignidade. A formação dos profissionais de saúde e de assistência social deve incluir, de forma obrigatória, a componente humanista, para que cada velhinho seja tratado como uma pessoa inteira, com história e sentimentos.
É crucial que a sociedade em geral mude a sua perceção sobre a velhice. Envelhecer é uma parte natural da vida e deve ser encarado com respeito e dignidade. Os idosos têm muito a oferecer em termos de sabedoria e experiência de vida. Desprezar ou marginalizar este grupo é perder uma riqueza inestimável de conhecimento e vivências.
A tecnologia, que tantas vezes nos afasta uns dos outros, pode também ser uma aliada nesta mudança. Ferramentas digitais podem ser usadas para conectar os velhinhos com as suas famílias e amigos, para lhes dar acesso à informação e para garantir que as suas vozes sejam ouvidas. O uso adequado da tecnologia pode ajudar a integrar os velhinhos na sociedade, permitindo-lhes participar ativamente na vida comunitária.
A mudança de mentalidade começa em cada um de nós. Precisamos de olhar para dentro e questionar as nossas próprias atitudes e comportamentos. Será que tratamos os nossos velhinhos com o respeito que merecem? Será que ouvimos as suas histórias, valorizamos as suas opiniões e cuidamos deles com carinho? A resposta a estas perguntas define o tipo de sociedade que estamos a construir.
Um futuro melhor depende das nossas ações presentes. Cada gesto de respeito, cada ato de cuidado, cada palavra gentil pode fazer uma diferença significativa. É através destas pequenas ações que construímos uma sociedade mais justa e humana, onde todos, independentemente da idade ou condição, são valorizados.
Afinal, um dia, todos nós poderemos encontrar-nos na mesma posição. A forma como tratamos os outros hoje refletir-se-á no modo como seremos tratados amanhã.
É imperativo construir uma sociedade baseada no respeito mútuo, na compaixão e na responsabilidade coletiva. Só assim poderemos assegurar um futuro onde todos, independentemente da idade ou condição, possam viver com dignidade e respeito.
Lembremo-nos sempre de que as pessoas mais frágeis são parte integrante da nossa sociedade. Não devem ser relegados a um canto, ignorados ou desvalorizados.
Devemos reconhecer a sua importância e garantir que são tratados com a dignidade que merecem. Ao fazer isso, estamos a construir um mundo melhor, não só para eles, mas para todos nós.
Todos morreremos um dia e todos experimentaremos a morte de outra pessoa em algum momento de nossas vidas.
Não existe uma maneira certa ou errada de sofrer, mas compreender as características do luto ajudará a compreender os nossos próprios sentimentos.
As pessoas geralmente não se sentem confortáveis em falar sobre a morte, mas é algo para o qual precisamos estar preparados.
Certamente, em algum momento da nossa vida, já lidamos com o luto. E o processo de superação é uma fase muito delicada para todas as pessoas, pois passamos por várias fases do luto.
A perda significativa causada pela morte de uma pessoa especial e a interrupção inesperada de uma convivência pode originar muitos sentimentos negativos, como a tristeza, a angústia, a desmotivação, a culpa, a raiva, além de outros sofrimentos.
Apesar de ser um estágio muito doloroso, é importante que as pessoas vivenciem esse processo, porque ele faz parte do amadurecimento humano e, portanto, é necessário para seguir em frente.
Durante o luto por um ente querido, as pessoas passam por algumas fases, em que os estudiosos da psicologia nomeiam de fases do luto ou estágios do luto. Essas fases servem para marcar o processo da perda.
Porém, nem todas as pessoas vivenciam esses estágios na mesma ordem, ou necessariamente passam por todas elas. Cada pessoa possui o seu próprio tempo de luto e vive de maneiras diferentes.
E tudo bem, porque o processo de preenchimento de um vazio é único para cada um. Nesse texto, iremos explicar tudo sobre o luto: qual o seu significado, quais são as fases do luto, quanto tempo dura o processo e como superá-lo.
O que é o luto?
A palavra luto vem do latim ‘luctus’ e significa dor, mágoa, lástima, aflição e pesar.
Ele faz parte de um processo psicológico para a adaptação de uma experiência de perda significativa de uma pessoa que possuía um grande vínculo afetivo ou já estava acostumada com a presença.
É um período em que a mente trabalha para assimilar o ocorrido, lidar com o sentimento de falta e de saudade e para aceitar essa nova realidade imposta, é o processo de aceitar a tristeza da morte. É uma experiência de recolhimento e introspecção pessoal.
Apesar de ser um episódio comum a todas as pessoas, cada uma tem uma reação diferente diante desse acontecimento.
Isso depende de muitos fatores, como a estrutura emocional, a idade, as vivências pessoais, o nível de convivência com a pessoa falecida, dentre outros motivos.
Porém, é essencial que a pessoa que está a sofrer o luto se permita viver esse momento, porque o luto é um período muito importante para a reconstrução mental, para a aceitação da morte e para as fases seguintes da vida.
Vivenciar as etapas dessa experiência contribui para que a pessoa consiga retomar o contato com o seu trabalho, sua vida social, seus relacionamentos e seus projetos pessoais.
A pessoa que repreende esse sentimento e tenta evitar ao máximo viver o luto pode acabar por manifestar sintomas negativos, que podem ser muito prejudiciais para a saúde mental e que podem levar até a casos mais profundos, como a depressão.
É normal que a pessoa que está a sofrer esteja constantemente triste, tenha crises frequentes de choro, se isole e se sinta desmotivada a realizar atividades que costumava gostar.
Além disso, o luto pode manifestar um conjunto de emoções como culpa, frustração, irritabilidade, desânimo, angústia, medo e desespero.
A etapa de luto é triste, portanto, envolve questões emocionais, psicológicas e físicas. Mas, independentemente da situação, superar o luto é importante para qualquer um.
5 estágios do luto
Como já foi mencionado, o sentimento de luto é estudado pelos psicólogos. Dentre os estudos científicos, foram nomeados cinco estágios do luto para marcar as fases desse processo.
Quantas fases tem o luto? A psiquiatra suíço-americana, Elisabeth Kübler-Ross é a maior referência nos estudos sobre a morte e os estágios do luto. Em seu livro “Sobre a Morte e o Morrer”, publicado no ano de 1969, a psiquiatra escreveu sobre esses estágios do luto.
Portanto, confira quais são as cinco fases do luto Kübler-Ross, criadas e estudadas pela psiquiatra e que são denominadas na Psicologia:
1ª Fase do luto – Negação
A primeira fase do estágio do luto é chamada de “negação” ou “isolamento”, choque.
É o primeiro sentimento que a pessoa enlutada desenvolve diante do acontecimento. Como a morte é, muitas vezes, inesperada, a pessoa leva um tempo para absorver o ocorrido e tende-se a negar que ela aconteceu.
Portanto, enquanto não “cair a ficha”, a pessoa volta-se para a negação da situação.
A aceitação parcial é uma fase que vem logo após a negação, sendo um estado temporário em que a pessoa se recupera do choque e está a começar a se acostumar com essa nova realidade.
É o momento também, em que a pessoa começa a reagir e manifestar reações mais intensas no processo de luto.
Esse é um estágio que pode ser visto como forma de defesa da mente sobre um ocorrido, até então, improvável e pode durar minutos ou até mesmo anos.
2ª Fase do luto – Raiva
A segunda fase do luto, a raiva, chega no momento em que a pessoa não tem mais como negar o facto e, portanto, começa a cultivar sentimentos e emoções de revolta.
A pessoa enlutada, portanto, tem dificuldades para entender os motivos da morte do ente querido e, então, começa a projetar a raiva através desse sentimento de inconformismo.
Esse sentimento é mais intenso para família e os amigos da pessoa falecida, e pode ser uma fase mais complicada e delicada de ser vivenciada.
As pessoas sentem raiva de quem os deu a notícia do falecimento, de quem, tecnicamente, poderia ter evitado essa morte, e até mesmo questões de crença podem entrar nessas reações intensas, como culpar a Deus pelo ocorrido.
3ª Fase do luto – Barganha ou Negociação
Na terceira fase do luto, o sentimento de raiva não trouxe alívio, portanto, a pessoa enlutada começa a adquirir uma certa esperança de cura divina em troca de alguns méritos que ela acredita que possa reverter o acontecimento.
Como esse sentimento ocasionado pelo luto não foi embora, a pessoa busca formas de sair dessa situação, podendo ser, também, uma maneira de prolongar o processo de luto.
Nessa fase, a pessoa busca soluções do que poderia ter feito de diferente, mesmo que seja impossível reverter a situação. Além disso, a pessoa também adquire esperanças de mudança baseadas em juramentos e promessas.
Essas esperanças consistem em realizar promessas ou fazer um pacto com Deus, até mesmo de receber uma graça ou algum tipo de milagre divino, como, por exemplo, fazer promessas caso a situação seja revertida.
4ª Fase do luto – Depressão
A quarta fase do luto é o estágio em que sentimentos de tristeza juntam-se com a solidão e a saudade. Novamente, a pessoa não obteve sucesso na fase anterior e gera um sofrimento ainda maior.
A pessoa tende a ter maiores crises de choro, busca se isolar das outras pessoas, começa a questionar sobre a sua vida e em como a pessoa falecida faz falta em sua vida.
É um período, portanto, em que a pessoa enlutada precisa de muito apoio de pessoas próximas, de modo que o sofrimento não se torne um transtorno depressivo.
Seja através de um ombro amigo, uma ajuda e uma escuta paciente, qualquer colaboração é bem vinda.
Se a pessoa receber acolhimento suficiente, isso contribuirá para que ela possa alcançar com mais facilidade o estágio seguinte, que é a fase da aceitação.
5ª Fase do luto – Aceitação
A quinta e última fase do luto, que fecha esse ciclo dos estágios, é a aceitação.
Após a pessoa sentir e expressar toda a sua inconformidade pelo acontecimento, o seu sofrimento e angústia causados pela perda, a raiva pelo ocorrido e os lamentos, é o momento dela contemplar o luto com maior tranquilidade.
O enlutado, então, já conseguiu passar pelos estágios antecedentes, agora consegue se sentir mais em paz e tem maiores condições para organizar a sua vida.
Porém, chegar à aceitação não significa que a pessoa está bem com o que aconteceu, principalmente se essa aceitação for referida a uma grande perda.
A diferença é que, a partir de agora, a pessoa irá conseguir encarar um sofrimento mais suave, além de conseguir ter mais consciência do que precisa ser feito daqui para frente.
Mesmo que a pessoa não goste dessa realidade em que está inserida, ela está a aceitar que viverá dessa forma. Portanto, ela está a reconhecer essa nova e permanente realidade – e a tentar conviver com ela diariamente da melhor forma.
A partir de agora, a pessoa entende que não a sua vida não acabou, e que existem possibilidades para que ela consiga reestruturar a sua vida sem a companhia do ente querido.
Quanto tempo demora para superar o luto?
Uma pergunta comum que as pessoas fazem sobre o luto seria quanto tempo leva para superá-lo, bem como quanto tempo dura o luto da separação.
É uma pergunta que não existe uma resposta exata, porque cada pessoa tem o seu próprio tempo para vivenciar o processo de aceitação e elaboração da perda.
É importante que, nesses estágios da perda, a pessoa pratique a aceitação de que as coisas nunca mais irão voltar ao normal, e é preciso que isso fique bem claro para a pessoa enlutada.
É necessário também que, ao seguir em frente, a pessoa não esconda os seus sentimentos. O luto precisa ser superado mas, ao mesmo tempo, precisa ser sentido.
Portanto, os sentimentos, por mais intensos que sejam, precisam ser externados. E enraizar esses sentimentos só irá trazer mais prejuízos e atrasar o processo de superação da morte.
Se a pessoa não conseguir retomar a vida normal, ela ficará a alimentar sentimentos negativos, como a culpa e a infelicidade, e, com o tempo, o luto pode se tornar patológico.
Dessa forma, a depressão pode ser desenvolvida e tornará necessária a busca por ajuda profissional, como o tratamento psicoterapêutico. Para os especialistas, o tempo para superar o luto torna-se preocupante quando ele se transforma em doença.
Como superar o luto?
Agora que já entendeu sobre o significado de luto, sobre cada uma das fases e sobre quanto tempo leva para superá-lo, é importante saber o que deve ser feito para superar esse período.
O que deve ser feito para superar o luto? Não é fácil, porém a psicologia ajuda as pessoas a recomeçar depois do luto, e existem algumas estratégias que podem ajudar a pessoa a superar essa fase tão delicada.
Veja as dicas para que possa seguir em frente ou para ajudar uma pessoa a superar a perda de uma pessoa querida:
Não ignore o luto
A negação da morte e ignorar a dor da perda pode ser prejudicial a longo prazo. Como já mencionamos anteriormente, viver o luto é essencial.
A aceitação da morte é considerada complexa para muitas pessoas e muitas delas tendem a não querer passar por esse processo.
Mas, superar perdas é uma transformação interna, portanto, você não deve esconder esse acontecimento da sua vida ou evitar falar sobre ele quando for necessário.
A aceitação é necessária para o autoconhecimento e para lidar com os sentimentos trazidos pela partida. Portanto, aceite os seus sentimentos e entenda que o luto é um processo que precisa ser vivido.
Tome o tempo necessário
Como já foi mencionado, cada pessoa tem o seu próprio tempo para viver esse processo. Dessa forma, não há um tempo certo estipulado para que alguém se sinta bem pela sua perda.
O importante é apenas que cada pessoa viva o processo no seu próprio ritmo e sem pressão externa.
A psicologia é fundamental no processo de lidar com o luto, pois ajuda a pessoa que está a atravessar esse momento delicado a superar a sensação de estar sozinha frente a esse grande obstáculo.
Além da ajuda da psicologia, o apoio de amigos e familiares é de grande importância para se lembrar que há motivos para continuar, mesmo quando tudo parece tão triste e sem sentido.
Aprenda a aceitar a dor e a perda
É importante que a pessoa aceite as suas dores provocadas pela perda, e evitar procurar outras maneiras para ocupar a sua mente e se desvencilhar desses sentimentos que, por mais que sejam ruins, são necessários.
Essas atitudes podem acabar, além de atrasar o processo dos estágios do luto, prolongar o sofrimento que surgirá inevitavelmente.
Sabemos que é duro para a pessoa não ficar apegada à rotina que vivia com o ente querido antes de sua partida. Os momentos vividos, embora fiquem para sempre nas lembranças, acabaram e, encarar essa nova realidade é custosa e complexa.
Dessa forma, para aceitar a tristeza e a dificuldade da perda, alterar alguns hábitos da rotina pode ajudar. Além disso, pode ser saudável para a saúde mental, que muitas pessoas enlutadas deixam de ter atenção nesse período.
Expresse o que sente
Expressar os seus sentimentos é fundamental para inibir as emoções nesse processo de luto. Por isso, é recomendável que você sempre expresse o que sente, porque pode ajudar a superar a perda.
Não sinta vergonha de externalizar suas emoções, por mais intensas que sejam.
No período de luto, a pessoa pode se sentir dominada por uma grande tristeza e sensação de abandono, negação, raiva e culpa.
Enquanto é preciso vivenciar as etapas do luto, não é bom isolar-se ou evitar sentir esses sentimentos que surgem com o confronto da mortalidade de um ente querido.
Procure encontrar um meio de desabafar e elaborar o que, exatamente, se está a passar com os seus sentimentos e pensamentos.
Manter-se calado e isolado pode trazer complicações psicológicas como depressão, portanto reforçamos a importância do item a seguir.
Tenha por perto pessoas que te façam bem
É importante que, ao superar o luto, você tenha por perto pessoas que você confia para te escutar, te acolher, acalmar as suas crises de choro e te ajudar a seguir em frente.
Passar esse tempo tão complicado com pessoas que você goste e que te ajudem a passar por esse processo de luto é essencial. Desabafe com essas pessoas, converse com quem você confia e esteja do seu lado e passe seu tempo com boas companhias.
A ajuda de amigos e da família é extremamente importante para nos lembrar que ainda há motivos para sorrir e seguir em diante com as nossas vidas, mesmo quando tudo parece tão sem sentido.
Além do carinho de familiares e amigos, é muito importante procurar ajuda psicológica para conseguir elaborar esses sentimentos de maneira saudável.
Além das estratégias citadas para superar o luto com uma maior facilidade, é essencial que a pessoa enlutada busque ajuda através da psicoterapia, principalmente se estiver a ter grandes dificuldades para lidar com esse processo.
Os especialistas consideram essa situação como um luto crônico, quando o quadro dura dois anos ou mais.
O psicólogo poderá avaliar o caso de luto e ajudar a pessoa a superá-lo e sugerir outras opções para ajudar a pessoa a gerir e a superar o processo de luto de forma saudável.
Existem casos específicos em que o processo de luto pode não ser considerado saudável para a mente. Isso acontece quando os sentimentos desencadeados pelo sofrimento são muito intensos e duradouros.
Se o luto durar mais do que seis meses, o acompanhamento psicológico pode ser necessário.
Confira, então, alguns sinais que merecem atenção naquelas pessoas que estão a passar pelos estágios do luto e não conseguem superá-lo:
Ter dificuldades, negação ou descrença para aceitar a morte do ente querido;
Ter saudade intensa de querer estar com a pessoa falecida;
Sentir uma parcela de culpa pelo ocorrido;
Desejar ter ido embora junto com a pessoa falecida;
Não confiar nas pessoas ao seu redor;
Não se desvencilhar das lembranças que remetem ao ente querido;
Não ter mais vontade de viver e perder o sentido da vida;
Perder a vontade de realizar atividades que gostava;
Raiva e amargura excessiva.
Dependendo do caso, as pessoas que não conseguem lidar com o luto de maneira saudável podem acabar desenvolvendo certos traumas e transtornos psicológicos, como, por exemplo, a depressão.
Por isso que o atendimento psicológico por vezes é necessário nesses casos. A presença e o apoio de parentes ou amigos é importante.
O profissional irá ajudar na compreensão desse momento, a como encará-lo da melhor forma possível e utilizará estratégias para conduzir a pessoa enlutada a superar o luto, de forma que esse processo traga menos impactos negativos para a sua vida.
Se perdeu alguém querido, está a passar pelo período de luto e está a ser uma fase complicada e difícil de lidar, não deixe de buscar ajuda.
Talvez nunca “superemos” a morte de alguém querido, mas podemos aprender a viver novamente e manter ao mesmo tempo as memórias daqueles que perdemos perto de nós.
Fontes:
https://psicoter.com.br/fases-do-luto-como-superar-as-perdas/
https://www.youtube.com/watch?v=gsYL4PC0hyk
https://www.youtube.com/watch?v=o-7c74-pUlk
Reflitamos sobre tudo isto.
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