Histórias

Querido Pai

À medida que o tempo passa e recordo os dias que partilhamos, o coração ainda se aperta com a saudade e a dor da tua ausência. É difícil expressar em palavras a profundidade do amor que sempre senti por ti, uma ligação que transcendeu a simples relação entre pai e filha para se tornar algo sagrado, um laço de alma que o tempo e a distância não conseguem quebrar.

Lembro-me tão claramente dos momentos em que a tua presença enchia a nossa casa de alegria e vitalidade. Eras o pilar que sustentava a nossa família, o farol que nos guiava nos momentos mais sombrios.

Como tudo acabou

No entardecer de uma vida, quando os anos já não se medem em primaveras, mas sim em memórias entrelaçadas com dores e afetos, Agostinho Brandão enfrentava os dias com um fôlego entrecortado pela idade. Aos 96 anos, a fragilidade do corpo era um peso que ele carregava com a paciência de quem atravessou décadas de altos e baixos.

Dependente para o dia a dia da sua vida e submisso a um andarilho que se tornara a sua extensão no mundo, Agostinho Brandão habitava uma casa modesta, onde os sinais do tempo se acumulavam tanto nos móveis gastos quanto nos cantos repletos de lembranças.

O palheirinho

Naquele pequeno palheirinho, próximo do mar, viviam nos meses de verão Agostinho Brandão e Alice Silva. Ao longo de seis décadas de casamento, viram mais do que a maioria poderia imaginar.

Agostinho Brandão era um homem de mãos calejadas, sempre com o cheiro da fábrica nas roupas, ainda que nevasse, os pés nus sem meias e a tenacidade no rosto. Trabalhava incansavelmente, muitas vezes em dois empregos simultâneos com turnos opostos, ele era o exemplo claro da dureza da vida em Esmoriz. Alice Silva, a sua esposa, era, por outro lado, a força do lar. Fazia milagres com os poucos recursos que tinham para alimentar e educar os seus oito filhos.

Solidão

No entardecer da vida, quando os anos bordam histórias na tapeçaria da alma, os idosos erguem-se como guardiães da sabedoria ancestral. São eles os depositários das eras passadas, os navegadores das tempestades do tempo. No entanto, nesta era de velocidade e superficialidade, as suas vozes são abafadas pelo estrondo do esquecimento.

Cada ruga nos seus rostos conta uma narrativa de lutas travadas e triunfos alcançados. As suas mãos, outrora ágeis e fortes, agora tremem sob o peso das memórias. E é nessa fragilidade que reside a força incomparável daqueles que sobreviveram às tempestades da existência.

A Fé na minha família

A fé sempre foi o alicerce da minha família, enraizada tão profundamente que, mesmo diante das adversidades mais cruéis, permanecia inabalável, intocável. Recordo-me dos meus pais, Agostinho Brandão e Alice Silva, como verdadeiros pilares dessa fé, cuja devoção os conduzia à igreja todos os domingos, independentemente dos desafios que a vida lhes impusesse.

Na nossa pequena comunidade em Esmoriz, a presença deles na Missa era notável. A capela da Penha testemunhava a sua devoção, com cada domingo marcado pela sua participação fervorosa. Lembro-me de ir à Missa à capela da Penha com o meu pai, lembro-me de ir à Missa à igreja matriz com a minha mãe. Lembro-me das manhãs de Natal, o lindo presépio radiante na capela da Penha, e dos rituais familiares que nos uniam em oração.

A Verdadeira Riqueza

No enredo do tempo, onde os fios da vida se entrelaçam em teias complexas, emerge a história singela, mas profundamente enriquecedora, dos meus pais.

Desprovidos de riquezas materiais, encontraram na força do amor e na resiliência o alicerce para enfrentar os desafios e dedicar-se incansavelmente à família.

Com origens modestas, os meus pais enfrentaram as adversidades desde cedo. O meu pai, jovem e já marcado pela dor da perda precoce da esposa Ana Rosa e do filho que levou com ela no ventre, que jamais conheceu, persistiu na procura por um novo horizonte de esperança. Foi assim que conheceu a minha mãe, Alice Silva, uma alma igualmente simples e lutadora.

Escola da vida

Desde criança, sempre soube que os meus pais eram diferentes, não sabiam ler nem escrever.

Eles, que nunca tiveram a oportunidade de aprender a ler ou escrever, ensinaram-me lições que nunca encontrei em nenhum livro.

O meu pai, com orgulho e esforço, aprendeu a juntar as letras e assinar o seu nome, sem nunca ter ido à escola,  um gesto simples que para ele era um marco de conquista.

Apesar do analfabetismo, criaram os filhos, sempre sustentados pela fé e pelo trabalho árduo.

Saudade

As saudades invadem-me todos os dias, mas no dia em que regressei a casa de férias, senti-as de forma ainda mais intensa. A casa, outrora repleta de vida e alegria, parecia agora vazia, um eco do que foi.

A tua presença iluminava cada canto, trazia temas de conversa, sorrisos e gargalhadas. Mas, agora, só o silêncio e as sombras das memórias permanecem.

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